Polarização

Polarização

Tenho uma vaga lembrança de quando foi que a política entrou na minha vida. Em outubro de 1996,  o meu pai chegou em casa com uma camiseta escrito “Pitta”. Ele havia ganhado no trabalho de alguém que esteve lá apresentando o tal “PITTA” como candidato à prefeitura daquele ano.

Por amar cores chamativas, pedi a camiseta  para mim, a coloquei e fui acompanhar algum vizinho em sua votação, na escola que eu estudava na época. Lembro de ficar cantarolando a música do candidato o caminho inteiro, a música não saia da minha cabeça, porque ele era uma promessa de mudança toda hora um carro passava fazendo propaganda política do tal candidato, eu não fazia ideia que estava fazendo campanha para um cara que era associado ao Paulo Maluf (Ex-prefeito de São Paulo), que ficou conhecido por dizer frases tipo: “Estupra, mas não mata” ou “Professora não é mal paga, é mal-casada.”

Na periferia há um apagão político, falta instrução política, ficamos alienados e analfabetos sobre o assunto. Eu não sabia que escolhendo qualquer pessoas a vencer as eleições, afetaria diretamente na minha educação, saúde, segurança por exemplo. Fico imaginando o que aconteceria comigo se estivesse com essa camiseta hoje, mesmo sem entender nada, talvez perderia muitos amigos

Ao longo dos séculos, a humanidade refinou sua organização, entendeu como as sociedades funcionam e criou sistemas para organizar o poder de forma mais justa. Uma das inovações foi a democracia (segundo canal Politize), por tanto a democracia deveria ser o sistema de governo que permite encontrar soluções negociadas aos conflitos, contudo, lembro-me que em junho de 2013, que antecederam o segundo mandato do governo Dilma, cujo partido havia se envolvido em vários escândalos de corrupção, as manifestações favoráveis ao governo, organizadas por movimentos sindicais e de esquerdas, estavam em oposição, aos partidos de direita, apartidários e movimentos sociais como MBL (Movimento Brasil Livre), que defendiam  suas pautas, contra o governo, essa oposição entre os lados deu início ao que chamamos de polarização. 

As pessoas desligam a Tv no horário eleitoral e votam nos candidatos que vão “ajudar” mais a comunidade.

Segundo o canal Politize, na política o significado estrito de polarização é simplesmente a divisão de uma sociedade em dois polos a respeito de um determinado tema. Porém, essa palavra tem sido usada de um modo mais negativo: polarização é como chamamos a disputa entre dois grupos que se fecham em suas convicções e não estão dispostos ao diálogo, sendo assim transgredir as regras parece justificável.

Nas eleições de 2018, evidentemente a internet ajudou muito nessa disputa de lados entre “direita e esquerda”, ou “conservadores e progressistas”. Os ataques se deram a partir das manifestações de rua e das redes sociais, com memes (piadas e críticas prontas); fake News (notícias falsas), virais da internet (vídeos curtos com enormes quantidades de curtidas e compartilhamentos), e o que era para ser um debate acalorado entre adversários tornam-se discussões entre inimigos.

E tudo fica banalizado, passamos a conviver com uma guerra entre pessoas que não se escutam, pessoas que se tornaram inimigas simplesmente porque pensam diferente, passamos a brigar com familiares e não a dialogar e esquecemos o que realmente  importa quando votamos, que é a pluralidade e igualdade para todos, queremos moradia digna, segurança, educação, saúde e saneamento básico. Porque aqui na periferia acostumamos a nos preocupar mais com o que vamos comer no dia seguinte do que qual lado (direita ou o esquerda)  é o certo da história.

As pessoas desligam a Tv no horário eleitoral e votam nos candidatos que vão “ajudar” mais a comunidade, o que seria extremamente normal, mas a ajuda que eu me refiro são ajudas pontuais revertidas em doações de cestas para os mais necessitados, asfaltamento de ruas nas favelas, pinturas de  muros etc., somente em época de campanhas eleitorais, e ainda, os territórios são divididos em “donos” uma espécie de acordo que diferentes partidos fazem para garantir votos nas regiões periféricas de São Paulo (e que até hoje ainda existe),cada partido tem um recorte de território, assim é definido que tipo de atuação cada um fará.

Dicas

  • Não há como aprender sem estar disposto a mudar de ideia, e para mudar de ideia devo aceitar que a minha convicção pode estar errada. 
  • O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: nunca ninguém reclama de ter recebido pouco, disse o filósofo francês René Descartes no início de seu Discurso do método
  • Pluralismo democrático exige confrontação e debate. Em toda sociedade há necessidades contraditórias que precisam ser resolvidas
  • Mentes simples exigem explicações simplistas em que não cabe a complexidade de um mundo cheio de nuanças e em mudança constante. Por isso, o mundo de um democrata é mais rico que o de um populista.
  • O debate morre quando é substituído por uma lógica de inimigos que se opõem.

E principalmente nós mulheres que buscamos nosso bem estar como forma de empoderamento, saibamos que a polarização induz ao ódio, alimenta a violência física e principalmente emocional. Vamos juntas, respeitando as diferenças e exercitando a democracia.

Bibliografia

Canal Politize

https://www.politize.com.br/o-que-e-polarizacao/?https://www.politize.com.br/&gclid=Cj0KCQjwn4qWBhCvARIsAFNAMih6nJZIykUsANxsY17V7geRhfu8rHHwkznW2SFwoi9LF1TrlDlNWfUaAvowEALw_wcB  

Trecho do livro : Ciberpopulismo –  Política e democracia no mundo digital, Andrés Bruzzone

Vania Rodrigues

Vânia Rodrigues

Vania Rodrigues, 40 anos, negra, periférica. Filha de pais semi analfabetos, vindos do nordeste do Brasil. Formada em Letras Português Inglês e Pedagogia, pela universidade Metodista de São Paulo, com especialização no ensino de Língua Portuguesa pela Universidade estadual de Campinas UNICAMP, cursando o último ano de Ciências Políticas pela universidade Cruzeiro do Sul. Atualmente, assessora de Articulação Política da deputada Tabata Amaral e coordenadora do Projeto de Voluntários do mandato. Voluntária na Educafro – Cursinho pré vestibular para Afrodescendentes e Carentes e Instituto Vamos Juntas – movimento suprapartidário que visa a Inclusão de mais mulheres na política.
Colunista do projeto Odara Conecta – projeto de empoderamento da mulher negra.

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