Eu não sei se começo escrevendo sobre a Covid e o retorno das crianças para os espaços educativos, a produção de pudim de leite condensado ou sobre a diferença de militância e “mitância”.
Mas no domingo eu senti que deveria escrever sobre militância e “mitância”, peço licença mas sei que muita gente critica quem assiste o BBB. Mas eu vejo. Já ouvi gente dizendo: “ Você graduada, professora e tão coerente, vendo?”
Então gente, tem momentos que precisamos assistir algo que não nos faça pensar, mas na verdade vejo como as pessoas articulam e mudam de máscara. Acho intrigante, posso estar errada sim, vou receber criticas sim. Mas só espero que ter uma opinião diferente da tua e que não seja motivo pra você me cancelar. Pois eu só tenho uma opinião diferente. Segundo Thais Santos Moya em seu artigo “Relações raciais e mídia: imagens e discursos” consumimos as informações da mídia para atender as seguintes necessidades: buscar diversão, facilitar a interação social, explorar a realidade e reforçar os valores coletivos, vigiar e adquirir informações sobre o desenvolvimento de opiniões relativas aos temas públicos.
Bom, mas venho refletindo sobre muitas coisas com relação a pauta racial:
1 – A mídia e a grande mídia brasileira, nunca organizou ou divulgou a pauta racial como nos últimos meses;
2 – Por uma ação do “pó de pirlimpimpim” uma grande mídia começou a acolher a pauta racial de uma forma ampla, aberta e acolhedora. Tipo efeito pipoca de micro-ondas sete minutos e tá pronto.
3 – Nem toda pessoa negra estuda as relações raciais e tudo bem. Nem toda pessoa negra é militante e tudo bem também. Mas hoje temos muitos negros “mitantes”– não sabem o que é militância, não estudam sobre a pauta e levantam a bandeira pra terem a adesão dos consumidores.
4- E por último, mas não menos importante, qual é o objetivo de colocar tantos negros “mitantes” no BBB? Será que é estratégico pra fragilizar a pauta racial e o movimento negro?
Bom vamos lá!
A mídia brasileira sempre tenta ter uma “boa ação” , mas acaba metendo o pé pelas mãos, ou melhor, realizam o enquadramento e determina a percepção e a representação da realidade. Vou listar aqui algumas situações que são validadas no artigo – “Relações raciais e mídia: imagens e discursos” de @Thais Santos Moya.
1 – Novela Cabana do pai Tomás X Zorra Total;
2 – Mulatas de Sargentelli X Concurso Globeleza;
3 – Pessoas negras como empregados domésticos nas novelas , filmes e teatro X quantidade de negros nos programas televisivos;
4 – Falta de apresentadores negros X Apresentadores negros;
Bom, acho que a lista comparativa pode ser maior e penso que vocês possam contribuir nos comentários, pois o seu olhar vai contribuir com outros olhares e opiniões.
Outro ponto a ser analisado. Como o clima organizacional de uma empresa mudou aparentemente tão rápido? Olha aqui são os meus sentimentos de dúvida, pois parece que perceberam que o povo negro consome, que tornamo-nos importantes e somos um grupo com potencial lucro. Será?! Às vezes acho que estou imaginando coisas.
Importantes ou consumidores potenciais?
Aí fico refletindo…
Temos alguns grupos de artistas, que pautam a agenda racial nas suas propostas de trabalho e não abrem para a grande mídia. Buscam articular os seus projetos através de grupos ou com ações de fomentos.
Com relação a militância , acredito que seja uma construção diária e de vida; no dicionário Michaelis é definido como a defesa para uma causa. Para a agenda racial, a militância deve permeia a nossa carne, pele, traços e cabelos… como canta a música : a nossa carne é a mais barata. Mas não será mais…
E a “mitação” é algo para criar um palco sobre uma pauta e agenda, com a base em slogans éticos e com o objetivo de agregar consumidores das mais variadas ordens. Então temos algumas variantes a serem observadas como: o aumento de negros em alguns programas e o aumento de pessoas que “mitam” a causa e não estudam sobre, como apresentado no começo do texto.
A Agenda racial deve ser uma pauta coerente, que dialogue e sensibilize as pessoas para a importância de compreender o tão famoso lugar de fala. Tenho até medo deste termo ficar banalizado. Então precisamos ouvir as histórias, acolher as dores e ter coerência entre a nossa fala e ações.
Não e fácil ser mulher em uma sociedade machista, como também não é fácil ser mulher negra em uma sociedade machista e racista. Ubuntu.
Patricia Pio
Pedagoga com Habilitação em Gestão Escolar, Especialização em Gestão de Políticas Públicas, Inclusão e Diversidade Social, Mestranda em Educação – Formação de Professores pela UFSCAR-Sorocaba;
Luciana
4 anos atrásA palavra militância está na moda, só tem essa explicação. Eu acho importante esse movimento, ainda que por “mitacao”, mas nós não podemos aceitar esmolas. É o que vc disse, nós negros precisamos estudar, militar, influenciar, respirar mudança. Vai dar certo. Escravidão nunca mais