Os corpos femininos

Os corpos femininos

OS CORPOS FEMININOS.  SÃO IGUAIS, MAS NÃO SÃO CUIDADOS E DEFENDIDOS NA MESMA DIMENSÃO.

Gente, vamos lá novamente. Quem me acompanha sabe como este assunto dos corpos femininos negros me afeta e me atravessa.

Nos últimos dias,  presenciamos dois fatos que envolvem os corpos das mulheres. Um corpo negro e outro não negro; um aqui no Brasil e outro nos E.U.A.

Em um, a mulher foi tida de “louca” e não foi escutada ainda pelos meios de comunicação (eu não vi, posso estar errada) e em outro ela também não teve espaço de fala, mas teve um homem negro a defendendo. De forma violenta, sim, mas precisamos refletir.

O primeiro caso, é um casal não negro, no qual uma mulher escolhe ter um encontro íntimo com um homem negro. Ao ser flagrados na situação, o homem não negro agride o homem negro em um estado de fúria. Em defesa da sua mulher não negra, que estava em um momento íntimo que socialmente não é autorizado, ou seja, os encontros inter-raciais ainda não são aceitos. Quero destacar como lemos e interpretamos estes momentos com os óculos da mídia e sem os mesmos.

A mulher deste fato, segundo informações, está internada por conta de uma “crise”. Oi? Para tudo produção! Então quando nos permitimos ter encontros íntimos de forma não convencional somos classificadas como mulheres em perigo? Pera aí produção?!  É isso mesmo? Gente do céu, me ajuda? Será que meus óculos estão quebrados? Percebam que não estou nem colocando em pauta as relações financeiras para analisar, mas as relações de poder. Tentando né?!

Agora vamos para a situação do Oscar. Um ator e comediante, faz “brincadeiras” sempre diminuindo as mulheres. Ele começa falando de um casal não negro que se a mulher perder a estatueta, o marido deve torcer para o seu concorrente ganhar, evitando assim um conflito de casal em casa.

Oi!!! Vamos mudar? A mulher perder? O que queremos representar ou afirmar com essa “brincadeira”?

A tal “brincadeira” continua com a mulher negra e em continuidade a eventos de anos anteriores se faz os ganchos e famosos gatilhos. Aí o marido, negro, se levanta e dá um tapa no ator comediante, seguindo de palavrões e de um posicionamento ríspido.

Então um homem negro defende um corpo feminino negro na hora, ou seja, ele acompanhou todo processo da tal “brincadeira”. Porém existe um movimento em que a mulher negra pode ser desrespeitada e quando ela é defendida e por um homem negro, cria-se uma situação de “Nossa!!”.  Mas o primeiro caso, o homem não negro defendendo a sua esposa não negra, criou-se várias justificativas, aqui tento partir da situação que o homem do primeiro caso viu um recorte e agiu com violência, talvez com um sentimento subjetivo de de defesa. Não sei bem se da sua honra ou da mulher, ou se tudo é a mesma coisa pra quem está na situação.

Gente, não estou certa em nada que escrevi, são só questionamentos dentro de mim. Para a primeira situação, existe violência, mas a mulher estava em crise. No segundo caso o homem estava fora de controle e a mulher doente. Gente, crise emocional não é considerado um quadro clínico? Qual situação dá mais permissão para as mulheres serem violentadas – verbal, fisicamente ou silenciadas?

Em qual momento estamos priorizando as mulheres para falarem das suas dores, desejos e emoções? Ou até mesmo destes fatos, quando busco informações quais são os corpos que estão editando e se posicionando sobre? Acho que os homens poderiam nos permitir falar desta situação, tudo isso dói em nós.

Se uma mulher e pega transando na rua, ela está em crise. Se o marido defende de um piadista, ela é coitada e está doente. Percebam, não estou desconsiderando as dores e os momentos, mas sempre a justificativa está no corpo da mulher. Gente, transar na rua dentro do carro é feito por várias pessoas, inclusive é desejo sexual de muitos, mas… estar mais vulnerável, podemos estar em vários momentos e independente disso o corpo da mulher negra não deve ser mais objeto de piadas. Respeito a condição da mulher, mas a piada não deveria ter acontecido e ponto.

Tudo isso me faz muito mal, pois estamos sempre precisando retomar que transamos sim e escolhemos com quem fazemos isso, ou seja, nós escolhemos. E queremos ser respeitadas, se estamos mais sensíveis queremos respeito e acolhimento adequado, não piada.

Acho que estou toda equivocada né?! Alguém pode me ajudar e contribuir com outros olhares?

Patricia Pio

Patricia Pio

Pedagoga com Habilitação em Gestão Escolar, Especialização em Gestão de Políticas Públicas, Inclusão e Diversidade Social, Mestranda em Educação – Formação de Professores pela UFSCAR-Sorocaba;

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3 Comentários

  1. Amanda Freire
    2 anos atrás

    Excelente reflexão. Ambas situações vão para além do que de fato aconteceu. Acredto que tudo que foi exposto , como vc disse , através dos óculos das mídias, perpassa por várias questões, incluindo, o que é comum, o que é correto e o que a sociedade nós impõe. Tantos defendem.suas mulheres, tantos fazem sexo dentro do carro, e com satisfação, e uma parte tem vontade e não faz por vários motivos, digamos que o medo é um deles. Está tudo de cabeça para baixo. A sociedade nós enfia de goela abaixo não só esses exemplos,mas tantos outros. Sabe- se lá, onde pararemos.

  2. Mábia Rodrigues dos Santos
    2 anos atrás

    Acho muito válida a reflexão porque mesmo sendo uma mulher e preta não tinha me colocado no lugar de nenhuma das mulheres, sempre com as discussões do lugar desses dois homens e o que a mídia traz. Estamos sendo sempre invisibilizadas, não vi nenhum espaço para essas mulheres se colocarem.

  3. Mariana Martha de Cerqueira Silva
    2 anos atrás

    Tô contigo nas argumentações Pat.
    Nesse mundo machismo, conservadorismo e racismo ainda imperam.

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