Sem seguir uma ordem necessária ou coisa assim, quando conhecemos alguém e temos os mesmos propósitos as coisas são fáceis e fluem naturalmente. Será?
Carlos e eu nos conhecemos e nos apaixonamos no final de 2006. Foi tudo muito intenso, logo estávamos fazendo planos e sonhando com nossa vida a dois e até com nossa família.
Fomos morar juntos em 2008 e decidimos que não esperaríamos mais e que aquele era o momento de suspender todos os métodos contraceptivos. Estávamos muito felizes, super empolgados e cheios de planos, pois logo não seríamos dois e sim três ou até quatro, quem sabe.
E assim o tempo foi passando e o esperado não aconteceu. Lá se foi um, dois anos e nada. Começamos a desconfiar que algo estivesse errado, as poucas pessoas que sabiam, diziam que era ansiedade e que no momento certo iria acontecer. Mas não aconteceu.
Eu, como não sou de ficar esperando as coisas acontecerem, marquei consultas para nós dois. Muitas vezes a infertilidade é atribuída à mulher, quando em grande parte dos casos os homens podem ter dificuldades também. Devido a um pensamento machista, associa a infertilidade à virilidade e sentem-se ofendidos em admitir tal fato ou não querem se expor a exames desconfortáveis que são imprescindíveis ao diagnóstico.
Em nosso caso, após diversos exames, várias consultas, tratamentos medicamentosos, acupuntura entre outras coisas, descobrirmos que nós dois contribuíamos para infertilidade do casal. Talvez, se fosse com outros parceiros, a chance de infertilidade seria menor, mas nesse caso os dois tinham algo que tornaria a fertilidade praticamente nula.
Fomos a um especialista em fertilidade que nos sugeriu a inseminação artificial, porém com apenas 40% de chances de sucesso, o que consideramos pouco devido ao investimento emocional, pois naquele momento achei que não suportaria o insucesso.
A possibilidade de não ser mãe, de não poder gerar um filho me corroeu por dentro me levando a um quadro depressivo e o desenvolvimento de uma ansiedade crônica. Engordei 20 kg, perdi a perspectiva de um futuro em família. Naquele momento atribuía à gravidez a responsabilidade em tornar isso possível.
Cada um de nós contribuía para infertilidade do casal.
Tive que buscar ajuda profissional, como terapia associada a um tratamento de enxaqueca que foi realizado com o uso de antidepressivos. Não me envergonho em falar, pois isso não significa que eu sou fraca ou que não tenho fé. A fé, inclusive, me ajuda e me norteia em vários momentos, mas naquele momento eu precisava de uma ajuda a mais.
E com tudo isso, consegui buscar naquele fundo de poço a luz que existe dentro de cada um de nós, que não devemos deixar apagar seja pelo que for.
Fui recuperando meu brilho, decidi que era o momento de voltar a me amar, de me cuidar. Não que o fato de estar acima do peso significa falta de amor próprio, mas pra mim, naquele momento era, pois me punia e me consolava com a comida.
No meu tempo eliminei os quilos que achava necessário, aproveitei o momento e resolvi me libertar da progressiva, aceitar os meus cachos e pude me olhar no espelho e enxergar uma bela mulher. Eu estava voltando a me enxergar como mulher.
Em uma certa tarde, assisti um documentário de adoção. Do nada, não me programei para aquele conteúdo. E de repente em um relato, escutei a seguinte pergunta:
“Maria você quer ser mãe ou você quer gerar uma criança?”
Aquela pergunta ficou vários dias ecoando na minha cabeça. E eu me lembro, o dia que a resposta saiu de dentro de mim. Sozinha na minha casa eu pensei e gritei em voz alta: EU QUERO SER MÃE!
Então, conversei com o meu marido Carlos sobre as ideias e tudo que estava passando em minha cabeça e coração. Ele demorou um pouco para digerir tudo aquilo, mas deixei que amadurecesse a ideia porque não queria pressioná-lo a nada. Na verdade queria que com ele fosse como foi comigo, de forma natural, pois a adoção deve ser uma escolha de amor.
Em março do ano de 2018, demos entrada nos papéis e enfrentamos toda a burocracia da adoção, cursos, entrevistas, entre outras coisas, mas resolvemos que íamos encarar tudo como uma gestação um pouco mais longa que as convencionais, mas iríamos curtir cada momento. Fizemos ensaio fotográfico, comemoramos a nossa habilitação como um resultado positivo de gravidez, montamos um quarto, até mesmo porque o processo até a chegada das crianças é burocrático e em alguns momentos doloroso. Já tínhamos sofrido tanto que decidimos tornar nossa espera o mais leve possível.
Ainda não sabemos quando nossos filhos vão chegar, mas sabemos que vão chegar quando tiverem que chegar e hoje, com tudo que passamos, estamos prontos para recebê-los, cheios de amor e preparados para receber o amor e os desafios que certamente iremos enfrentar. Sabemos que não podemos atribuir a eles algo que depende de nós. Ser feliz é uma escolha e nós escolhemos ser felizes antes, durante e após a chegada deles.