A raça humana está sempre em busca de respostas fáceis para perguntas complexas. E sabe qual é a temática campeã das dúvidas e inquietudes da nossa essência? Sim, ele mesmo: o amor. Não é à toa que existem tantos aplicativos de relacionamento. Nem tantos cursos rápidos sobre relacionamento ou relacionar-se.
A queda de barreiras da globalização devia facilitar o processo. O fato de termos um celular que nos permite facilitar as nossas relações também. Ainda assim, conhecer pessoas e decidir relacionar-se com elas, encontrar alguém dentre as 8 bilhões de possibilidades no mundo todo pode ser desafiador e angustiante.
Fomos ensinadas que cada uma de nós precisa ter a sua “tampa da panela”. E que ela deveria caber perfeitamente para sempre. Essas crenças tornam mais difícil ainda o relacionar-se. A gente fica o tempo todo na expectativa “da pessoa certa”. E se aquela que dá o choque não for a certa. E se eu escolher errado achando que é certo e deixar o certo passar? Amar pode ser sobrecarregante em uma sociedade machista e patriarcal.
Não é à toa que pesquisadores ao redor do mundo já cunharam um novo termo para se referir a exaustão que as vezes surge com a procura: “burnout dos apps de relacionamento”. Eu gosto de um termo um pouco mais poético. Vou chamar de “Exaustão da incansável busca pelo amor”.
A primeira coisa que eu decidi fazer foi parar de procurar (um amor)
Sim, aqui fala uma escritora cansada de buscar um amor com muitos relacionamentos que deram errado e frustrações. Depois de mais uma fracassada tentativa de me relacionar, eu cheguei a achar que o amor não era para mim. Costumava pensar que seria a tia solteirona muito comum nos filmes de Hollywood.
Junto com essa constatação vieram várias outras insatisfações da minha vida. Eu não estava feliz no meu trabalho. Havia uma angústia existencial que me incomodava em quase todos os momentos do meu dia. Carregava um vazio muito grande. Uma sensação de viver a vida no automático. A insatisfação nos meus relacionamentos era só a ponta do iceberg.
Eu tenho alguns padrões que tornavam mais difícil a minha jornada da paixão: eu sempre fui a pessoa do amor platônico. Você piscou e lá estava eu, apaixonada por alguém que não tinha nada a ver comigo, e de quebra nem sequer era viável. Quantas paixonites eu já tive por pessoas que agora, com a distância e os anos que passam eu só consigo pensar: por que mesmo que eu me apaixonei por essa pessoa?
Quando não eram as paixões platônicas, eu estava travando alguma relação: fosse encontrando microdefeitos que para mim se transformavam em questões inaceitáveis, fosse porque eu não sabia reagir num ambiente de paquera. Sim, muitas vezes a exaustão da busca pelo amor me deixava sem reação. Eu não conseguia responder a uma cantada para além de um risinho nervoso. Ou de um “muito obrigada”. Começar um flerte era impensável para mim. Eu estava presa no mecanismo patriarcal do amor: ou desejava o homem que não podia ter, ou tinha que me sujeitar as paqueras de homens que tinham a coragem de começar qualquer papo comigo – que sempre fui muito fechada.
Como você quebrou esse ciclo, hunter? É o que você leitor, deve estar aí se perguntando! Bom, eu não acho que quebrei ainda 100%, mas reconheço que estou no processo. E gostaria de dividir um pouco da minha jornada aqui. Quem sabe não ajuda vocês também.
A primeira coisa que eu decidi fazer foi parar de procurar. Claramente, a busca incessante pela tampa da minha panela era um – dentre os muitos – fatores que me causava ansiedade. Em seguida, a resposta foi trocar de terapeuta. E está aí algo que eu recomendo. Apesar de achar que todo mundo deveria fazer análise nessa vida – eu não acho que a gente deve ficar a vida inteira com a mesma analista. Minha terapeuta era a mesma desde os meus 16 anos de idade. Talvez nós duas já estivéssemos com o olhar viciado.
Em uma das primeiras consultas, a minha nova analista foi certeira com uma frase que guiaria então, toda a minha jornada: “Quando você não está trabalhando, o que te faz feliz?”. Esse questionamento, e algumas das suas variações: “Quem é você e o que te faz feliz?” por exemplo, me viraram do avesso quando eu descobri que não sabia responder a nenhum deles.
Sabe aquele vídeo que se tornou viral em um milhão de plataformas digitais diferentes: 50 fatos sobre mim? Então. Imaginem que eu peguei um papel e tentei colocar fatos sobre mim ali. Todas as respostas que vieram diziam respeito ao meu trabalho. O pior: eu não tinha certeza de nenhum dos poucos fatos que eu consegui transformar em palavras.
Ter a noção que eu não tinha certeza de quem eu era, foi – ao contrário do que você pode imaginar – um grande alívio. De repente ficou claro a razão daquela grande trava emocional e de relacionamento. De repente, eu entendi a razão de todos os meus vazios. Eu estava tentando preencher com as coisas erradas. Ali, finalmente eu entendi que não fazia mais sentido a busca por um grande amor, tampouco a busca pelo trabalho dos sonhos ou do meu propósito de vida. Eu precisava, antes, descobrir quem eu era.
O segundo passo foi mergulhar profundamente na minha essência. Eu precisava urgentemente de autoconhecimento. E como a gente descobre quem somos, Hunter? Simples: a gente procura ajuda e testa as hipóteses – como qualquer tese científica. Psicanálise, reiki, terapia holística: eu segurei na mão de todos os que poderiam me ajudar a evoluir, fechei os olhos e mergulhei no escuro.
Bom, uma das poucas certezas que essa longa caminhada me trouxe é a seguinte: o amor está dentro de você.
Encontrei alguns demônios, muitos e muitos traumas, alguns desalinhamentos energéticos (chame como você acreditar!), defeitos, padrões de comportamento que eu carregava desde a infância e que explicavam muito do que eu vivia. Encontrei também muitas respostas. Descobri que eu amo arte. Que qualquer passeio num museu ou numa biblioteca ou qualquer outro lugar cheio de história me fará feliz. Lembrei que eu amo e preciso viajar com alguma frequência. Descobri que fugir para qualquer lugar com natureza e cachoeira me reconecta. Tenho conhecimento que eu sei jogar tênis. E que o meu propósito está em fazer algo que possa mudar a vida de outra pessoa: seja um conselho, um projeto, um ensinamento.
Me descobri na vida política, apesar de entender cada vez mais que não preciso trabalhar na política para estar realizada dentro dela. Conheci pela primeira vez na vida pessoas com quem eu amava conversar. Descobri um grupo para chamar de meu. Descobri que sim, eu fico bem bonita loira, mas eu amo a praticidade de me amar morena. Que eu posso e consigo viver sem comer carne, que eu me sinto sexy (e que gostoso se sentir assim) usando croped e deixando um pedaço a mostra. Descobri que com pouca maquiagem eu me sinto linda e depois de muitos anos, eu consigo me olhar no espelho e me achar linda, mesmo com uns quilinhos a mais e alguma olheira.
Resgatei meu amor pela leitura e aprendi que eu não preciso fazer mil cursos pra aprender coisas muito relevantes. Encontrei o meu tom de voz – não, não estou falando de timbre. Estou falando da entonação ideal para comunicar ao mundo aquilo que você acredita. Descobri exatamente o que eu quero falar, passar, demonstrar para o mundo e tudo bem se eu mudar de ideia no meio do caminho, pois sou “autenticidade em construção”. Encontrei referências que eu nunca tive. Na política, no jornalismo, na literatura na forma de levar a vida.
Eu me destruí para me redescobrir inteira. Foi um processo que doeu. Tinham algumas ladeiras na jornada. Eu precisei parar para descansar no meio do caminho. Achei que não ia dar conta muitas vezes. E é essa a beleza da jornada de autoconhecimento.
E o amor, você deve estar se perguntando? Bom, uma das poucas certezas que essa longa caminhada me trouxe é a seguinte: o amor está dentro de você. Hoje, eu sei exatamente o que eu procuro quando for encontrar um relacionamento. Eu não tenho mais o sonho de encontrar a tampa da minha panela.
Sonho em encontrar alguém que eu sinta segurança para me expor imperfeita, autêntica, diferente, cheia de defeitos. Alguém que olhe nos meus olhos e enxergue dentro da minha alma. Alguém com quem conversar seja fácil. Alguém que faça sentido estar. E se eu mudar no meio do caminho e a história mudar do rumo, vai ser confuso e difícil perder o controle, mas sei que eu terei coragem para deixar ir.
A mulher que encerra esse texto: já enxerga o amor nas suas possibilidades e não foge mais dele. Ela está pronta para vive-lo intensamente quando ele chegar. E caso ele nunca chegue? Não se preocupe: o nosso amor está dentro de nós mesmas.
A mulher que ressurge hoje, do mergulho mais intenso, difícil e lindo da sua vida sabe que ela pode olhar para alguém, se atrair, tentar e seguir em frente, caso não role. Não custa tentar, mas ela não precisa se apaixonar pelo impossível. Ela sabe exatamente o que quer, mas não tá fechada para o desconhecido e por isso, está disposta a se deixar viver aquela história que pode não ser a que ela quer, mas que pode ser linda. A mulher renascida aqui não tem medo de jogar no ar que sente atração, de publicar uma foto para provocar, de jogar um outro flerte, mesmo sem saber paquerar. A mulher de hoje está livre de travas: ela conhece as belezas de amar, porque antes de amar ao outro, ela amou sua essência. Lutou por ela. Conhece cada cantinho de suas trevas.