Há cerca de cinco anos atrás decidi que Marketing não era mais a minha profissão. Faltava uma sensação de desafio e sentir-se parte e algo significativo. Os dias eram arrastados e me sentia um robô fazendo a mesma coisa, sempre e sempre.
O problema não estava na área de Marketing, onde tive a oportunidade de conhecer profissionais incríveis e que carrego para a vida como amigos. Apesar de ser um tanto clichê dizer esta frase, de fato, o problema não era a profissão, mas era eu.
Quando percebi que o problema era eu e não o trabalho, comecei uma cruzada pessoal: identificar o que eu gostava de fazer e o que poderia me trazer uma renda que me garantisse o sustento e quais meios poderia usar para alcançar uma posição nesta nova carreira, tão perto dos 30 anos de idade.
De lá, fui para outra consultoria também atuando na área financeira. Hoje, tive a felicidade de ser contratada por uma multinacional.
Procurei dentro do Marketing as atividades que fazia com excelência e me dava prazer e, neste auto mapeamento, encontrei minhas habilidades em tratar e alinhar as informações para identificar potenciais estratégias.
Depois de meses pesquisando, encontrei a minha profissão: BI. Claro que tive a sorte de ter um gestor que me dava espaço em desenvolver outras habilidades e, dentro do local onde trabalhava, entre um curso e outro, criei um mini departamento de BI na empresa, o que em consequência foi uma conquista de caixa e reposicionamento da marca (nisso, usei BI como estratégia de Marketing).
Se existe algo místico, uma força que nos move, uma linha invisível que conecta as pessoas, honestamente não sei, mas percebi que meu novo posicionamento profissional abriu-me portas que até então jamais imaginava. Se, antes, era uma batalha encontrar um emprego como analista de marketing, quando me reposicionei como analista de Bi, incontáveis portas se abriram.
Em paralelo, investi mais ainda em treinamentos, certificações profissionais e rapidamente recebi uma proposta para atuar em uma agência com um cliente da área financeira. De lá, fui para outra consultoria também atuando na área financeira. Hoje, tive a felicidade de ser contratada por uma multinacional. A máxima “sorte é oportunidade e preparação” se aplicou perfeitamente nesta jornada tão nova.
Apesar das conquistas profissionais, acabei me deparando com um desafio que não vivia no mundo do Marketing. Muitos homens e um perfil um tanto padronizados para os profissionais de TI e BI mostraram uma triste experiência de machismo.
O comportamento dos funcionários, como gestores invalidavam argumentos e como mulheres eram uma presença mínima nestes ambientes, fazia da minha vida pessoal um terror. Apesar de fazer algo que amava, tive crises de Burnout. Incontáveis eram as vezes que ouvia gritos, me obrigavam a desfazer todo o trabalho já desenvolvido, tratavam com piada argumentos que eu ou outras colegas posicionavam em relação a execução de projetos.
Ao mesmo tempo, estes homens se sentiam confortáveis em falar termos grosseiros, fazer comentários sobre a aparência física das mulheres da equipe, além das infelizes conversas que pareciam uma longa disputa pessoal para mostrar quem dominava mais sobre determinado assunto. Felizmente, apesar de estar em um setor amplamente masculino, não vivo nenhuma situação de machismo.
Observando e comparando estes padrões de comportamento, independente do setor onde atuo, há um ponto de atenção: a cultura da empresa e como ela a prega são essenciais para eliminar o comportamento destrutivo entre homens e mulheres em TI. É muito nítido que os gestores são agentes influenciadores deste comportamento e como a área de gestão de pessoas tem um papel tão importante em educar todos os colaboradores para partilhar a identidade cultural de uma empresa.
Essa ação de tirar do papel é extremamente importante para as ações diárias dentro de qualquer ambiente empresarial, desde a micro empresa até uma multinacional. Nesta experiência pessoal, percebi que as melhores maneiras de se fazer isto foram através de um diálogo honesto, onde há nítida confiança entre ambas as partes, uma constante comunicação dos ideais da empresa, desde uma assinatura de e-mail até a reunião com o CEO e a preparação para a liderança.
Desejo que você, líder, ao ler este texto se conscientize de seu papel social. Além de bater metas, garantir entregabilidade, existe um papel invisível e que compete a todos os líderes que é ser um porta voz e exemplo de igualdade social.
Sylvia Ferreira
Projetos de TI para mulheres que a Syl indica:
https://www.programaria.org/
https://pyladies.com/
Alice
4 anos atrásMuito bom, Sylvia, parabéns! As áreas ligadas à tecnologia são excelentes para as mulheres, tanto por oferecerem remunerações mais atraentes quanto por proporcionar condições mais flexíveis para realizar o trabalho, onde é possível conciliar melhor a vida pessoal e profissional.
Além disso, estima-se que até 2030 a automatização de tarefas vá extinguir ou remodelar muitos cargos operacionais e administrativos, onde a mulher é maioria. Estarem aptas a acompanhar a revolução tecnológica será essencial para conseguirem manter a empregabilidade.
Sobre a questão do machismo no ambiente de trabalho, ontem li uma matéria muito interessante sobre “Manterrupting”. Não conhecia o termo, mas tem sido muito discutido no mundo corporativo.
Syl Ferreira
4 anos atrásOi Alice, obg pelo carinho! Manterrupting exite com força no mundo corporativo, já passei por experiências péssimas com este tipo de situação.