10 dicas de planejamento financeiro

10 dicas de planejamento financeiro

Quem não lembra do famoso slogan de campanha do então candidato à Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama? Yes, We can!

Sim, todos podem (e devem) ter um planejamento financeiro. Contudo, grande parte dos brasileiros, infelizmente, acreditam que economia e finanças são assuntos da elite e que planejamento financeiro somente é feito por quem tem muito dinheiro. Na verdade, todas as pessoas que trabalham (independentemente do tipo de vínculo) deveriam ter um planejamento financeiro.

Tradicionalmente há um tabu em falar sobre dinheiro que vem desde a infância. Não aprendemos finanças pessoais na escola (atualmente algumas poucas escolas incluíram educação financeira em suas grades curriculares). Soma-se a isto, a infinidade de crenças negativas sobre dinheiro que nos são apresentas, ainda na infância como “dinheiro não traz felicidade”, “dinheiro é a raiz de todos os males”, “só é rico quem nasceu rico”, “se enriqueceu é porque fez algo ilícito” e outras crenças que são incutidas em nossas mentes.

Posteriormente, na vida adulta, as crenças e a falta de informação sobre dinheiro, infelizmente, afetam a vida a dois. Tanto que estatísticas demonstram que as questões financeiras representam a segunda maior causa dos divórcios e separações, perdendo apenas para as traições.

Eu acredito no poder da educação e na frase do Nelson Mandela “A educação é a arma mais poderosa que se você pode usar para mudar o mundo”. Assim, como economista, escolhi focar no pilar da inteligência estratégica financeira para contribuir para a evolução das pessoas, desmistificando economia e finanças. Para isto, é essencial desconstruir as crenças sobre dinheiro, começando por derrubar o mito que economia e finanças são assuntos da elite.

Economia e finanças estão presentes no nosso dia a dia. Quem já não perdeu o sono por causa de dinheiro? Dinheiro não traz felicidade. Mas sem ele se torna quase impossível fazer tantas coisas! Defendo que devemos “Amar as pessoas e usar as coisas” e nunca o contrário! Que dinheiro serve para nos SERVIR e nunca o contrário! E por último, que é essencial entender que você é o DONO do seu dinheiro e NUNCA o contrário!

Na busca por cumprir meu propósito de desmitificar economia, procurei entender porque afinal de contas este assunto ainda representa um tabu em pleno o século XXI. Aos motivos já citados acima, somam-se a falta de identificação. Explico – quando vimos ou lemos economistas e/ou especialistas em finanças, ouvimos que:

…não devemos ter casa própria, não se deve ter carro, usar cartão de crédito é ruim, não devemos parcelar e por fim, que temos que usar a famosa regra 50-30-20, o qual que estabelece limite para as despesas. Ou seja, no máximo 50% de seus rendimentos deveriam ser usados para arcar com “gastos fixos e essenciais” como moradia, alimentação e educação; 30% com “estilo de vida” como roupas e lazer e 20% da renda deveria ser destinada a poupança

Concordo com esta regrinha e acho-a perfeitamente ideal para ter uma saúde financeira. Entretanto, nem sempre o perfeito é feito. Tudo tem um começo e na maioria das vezes, há um abismo entre o mundo ideal e o mundo real.

Na maioria das vezes não conseguimos ver nas pessoas que estão falando, as mesmas dificuldades que enfrentamos. Além disso, como falar em poupança, se ainda se está endividado? Como dizer que não devemos ter casa própria, quando fomos ensinados que esse é o sonho a ser perseguido? Como aceitar que ter um carro é apenas um status?

Respeito todas as opiniões, creio que a discordância é saudável! Sigo muitos educadores e educadoras financeiras que defendem essas opiniões. Contudo, entendo que estamos falando de VIDA, de PESSOAS e antes de aplicar regras é primordial compreender que cada caso é um caso, que não existem verdades absolutas e (quase) nada na vida é possível generalizar.

Então, por isso eu acredito na inteligência financeira para ter uma relação saudável e harmoniosa com o dinheiro. Defino inteligência financeira como sendo:

Capacidade de saber usar o dinheiro de forma inteligente, sabendo exatamente suas capacidades – o que recebe e o que paga –  investindo (no sentido de fazer) em coisas que lhe darão possibilidade de melhorar seu padrão de vida futura.

A inteligência financeira (IF) está diretamente ligada ao conhecimento de suas capacidades financeiras, organização e disciplina. A IF naturalmente nos conduz ao planejamento que é o pensar no futuro. É um exercício de construção de futuro. Logo, para construir o futuro é necessário analisar o presente e assim, organizar a casa.

1 - Domine as Finanças

Saiba exatamente qual seu rendimento líquido, seu custo de vida e seus gastos (aluguel/prestação casa própria, luz, agua, transporte, alimentação e lazer). Classifique-os em gastos fixos, e variáveis, essenciais e supérfluos. Lembre-se que a escrita tem poder! Por melhor que seja sua memória, não confie nela! Use um sistema de controle, seja o tradicional caderninho, a planilha Excel ou um software e inicie seu FLUXO DE CAIXA PESSOAL. Para ter o domínio sobre suas finanças é importante criar o hábito, uma rotina de anotar diariamente seus gastos, dos mais simples aos mais sofisticados. Tenha em mente que cartão de crédito é apenas um meio de pagamento, logo significa que tudo o que for pago com ele deve ser anotado de forma detalhada. Anote diariamente e mensalmente analise se o que estava previsto foi condizente ao realizado.

O cartão de crédito, se bem utilizado, se torna um aliado, pois aumenta nosso poder de compra. O problema está no descontrole e em NÃO saber usá-lo, pois muitas pessoas acham que ele (o cartão de crédito) vai se pagar sozinho! Tipo: Ah, não tenho dinheiro, então, passa o cartão. Como se não precisasse ser pago! Não se iluda, cartão de crédito é dinheiro!

2 - Equilibre renda e gastos

Economia é muito simples! Se você gasta mais do que recebe a conta nunca vai fechar! O primeiro passo para o equilíbrio financeiro é identificar se você possui algum desses inimigos:

  • Você usa o limite da conta, o famoso cheque especial;
  • Você paga o mínimo ou menos que o valor total da fatura do cartão de crédito;
  • Você tem mais que um empréstimo;
  • Você pede dinheiro emprestado para pagar as contas.

Se você respondeu SIM para uma das questões acima, você possui e alimenta um grande inimigo! Livre-se urgentemente dele(s)!

3 - Não atrase dívidas

É importante entender que nem sempre dívidas são ruins. Na verdade, o que é ruim é endividar-se além de sua capacidade de pagamento.  É considerada endividada a pessoa que tem dívidas acima de sua capacidade de pagamento e/ou dívidas em atraso como as citadas acima. O ideal é não ter dívidas que comprometam mais que 70% do que você recebe. Se você já domina suas finanças, não há com o que se preocupar! Mas se você ainda não possui este domínio e/ou respondeu SIM para alguma das questões anteriores, esse passo é importantíssimo para a construção de uma relação saudável com seu dinheiro e um planejamento financeiro.

Se você é uma pessoa endividada, o primeiro passo é analisar suas dívidas e eleger prioridades, começando por quitar as essenciais, como aluguel, água e luz. Após realizar os pagamentos essenciais, opte por pagar as dívidas que tem a maior taxa de juros como cartão de crédito e limite da conta (cheque especial) por exemplo. Uma dica importantíssima é NEGOCIAR. As instituições financeiras não estão acostumadas a isso. Demonstre que você possui conhecimento, estude antes sua dívida, verifique a taxa de juros praticada e proponha uma negociação.

Quando se está endividado, é importante não fazer mais dívidas! Contudo, é essencial ter bom  senso (aliás, bom senso é maior amigo das finanças), analisando e dando atenção à taxa de juros. Por exemplo: Se você está utilizando o cheque especial que, em média possui uma taxa de juros de 112% ao ano e/ou o rotativo do cartão de crédito que tem, em média uma taxa de juros de 310% ao ano. O mais sensato é fazer um empréstimo que tem, em média taxa de juros de 28% ao ano para quitar as dívidas com altas taxas de juros. Importante: As parcelas do empréstimo precisam “caber” no seu bolso para que não vire bola de neve. O objetivo é fugir das altas taxas de juros, de forma que você fique apenas com uma dívida.

4 - Livre-se das tarifas

Você conhece a Resolução nº 3.919/2010 do Banco Central? Poucos sabem que há mais de 10 anos o Banco Central garante que todo cidadão brasileiro tem direito a abrir uma conta corrente em qualquer banco livre de tarifas. Ou seja, todos os bancos nacionais são obrigados a disponibilizar gratuitamente uma conta corrente para pessoas físicas. Obviamente, nenhum banco vai te dizer isto. Saber negociar é poder!

Em média, o valor cobrado de tarifa mensal é R$ 40,00, significando R$ 480,00 ao ano. Para reivindicar seu direito, entre em contato com seu banco e diga que quer uma conta corrente conforme a resolução do Banco Central. Além disto, há os bancos digitais que não cobram tarifas.

Aproveite e livre-se também da anuidade do cartão de crédito. Existem no mercado várias opção de cartões SEM anuidade. Informe-se. A economia pode chegar a R$ 1.000,00 ao ano, visto que a anuidade do cartão de crédito varia de R$ 24,00 a R$ 90,00 ao mês, dependendo do Banco, da bandeira e do tipo de cartão.

5 - Mude hábitos

Não perder mais o sono, por causa de dinheiro, exige mudanças de hábitos. Comece por priorizar suas compras. O ser humano é visual por natureza, então evite passar em shoppings e em locais com apelo de consumo. Se for indispensável ir a estes lugares, cada vez que bater a vontade louca de comprar, pense no sono tranquilo e se faça duas perguntas essenciais:

  • Eu preciso?
  • Eu posso? (Pagar sem sacrifícios)

Outra forma de economizar é se perguntar: Por que pagar por coisas que posso ter de graça? Em média, frequentar uma academia custa de R$ 250,00 por mês, significando um gasto ao ano de R$ 3.000,00. Pratique exercícios ao ar livre como caminhadas, corrida, andar de bicicleta ou use os equipamentos de ginástica que há em alguns parques ou ainda, opte pelo faça você mesmo e acompanhe os vídeos gratuitos de aulas pelo Youtube.

6 - Liberte-se dos padrões e status

Nossos hábitos de consumo estão diretamente ligados ao quanto nos deixamos influenciar pelos padrões impostos pela sociedade. Por que comprar o produto X, se Y tem a mesma funcionalidade, tem boa qualidade e é vendido por um preço 30% menos que o preço de X?

Entrando na questão de carro. Saiba exatamente os custos envolvidos. Você sabe exatamente qual o custo de ter um carro? Você realmente precisa de um carro? Vão ter dois carros na família?

Não há certo nem errado, o importante é analisar e saber o que faz sentido para você, não se deixando levar por imposição da sociedade que atrela sucesso a ter um carro bonito, potente e impõe que você deve trocar de modelo de carro a cada ano.

7 - Invista em você

Todos acreditamos em algo! Eu acredito e defendo o poder transformador da educação. Contudo, respeito quem pensa diferente!

Assim, defendo que devemos optar por consumir coisas que nos agreguem valor e nos possibilitem crescimento, como cursos e livros. O valor gasto com educação não é uma despesa e sim um investimento, pois representa retorno financeiro futuro. Pesquisas demonstram que os salários aumentam conforme aumenta o grau de instrução. Logicamente, há exceções.

Atualmente, neste período de pandemia, aumentaram as possibilidades de acesso a conteúdos de qualidade. Navegando na rede há uma infinidade de cursos, sendo muitos deles com certificados. Também é possível assistir a lives com discussões riquíssimas capazes de aumentar nosso conhecimento, que é uma fonte inesgotável.

8 - Reserva de emergência

Particularmente, entendo o planejamento financeiro como um processo que tem etapas a serem cumpridas, ou seja, arrumar a casa antes de iniciar. Logo, se você já domina suas finanças, possui equilíbrio entre renda e gastos, não possui dívidas atrasadas ou em excesso, livrou-se das tarifas, mudou hábitos, se libertou dos padrões e status e já entendeu a importância de investir em você, então está na hora de iniciar a tão falada reserva de emergência que é um valor que vai cobrir seus gastos essenciais por um determinado período, geralmente de seis meses a um ano, caso algo lhe aconteça e você perca sua fonte de renda. A pandemia é um ótimo exemplo. Muitas pessoas perderam seus empregos ou tiveram seus empreendimentos fechados neste período e estão sobrevivendo graças as suas reservas de emergência. Se não as tinham, tudo ficou mais difícil.

O primeiro passo para constituir uma reserva de emergência é definir o valor desta reserva.

Exemplo: Se mensalmente meus gastos essenciais são de R$ 2.000,00, você precisaria ter uma reserva de emergência de, no mínimo, R$ 12.000,00 para sobreviver 6 meses sem renda.

Poupando no mínimo R$ 200,00 por mês (10% dos gastos essenciais apurados) em 60 meses, ou seja, 5 anos, aplicando em título do Tesouro Selic você teria R$ 12.572,54.

Se você ainda não tem condições de iniciar uma reserva de emergência, mesmo que sua vida financeira esteja saudável, é importante não desanimar! Tenha disciplina e poupe o que puder. Se o desemprego ou a crise chegaram e você não tinha a reserva de emergência, não lastime e busque alternativas de renda extra para sobreviver. O mais importante é ter uma relação saudável com o dinheiro, entendendo que ele deve ser fonte de satisfação e nunca de sofrimento!

9 - Fuja dos golpes

Perder dinheiro é ruim e a sensação de ser engado é pior ainda! Infelizmente pessoas desonestas existem e durante a pandemia os golpes financeiros aumentam mais de 80% segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).

Os tipos de golpes são os mais diversos, contudo os mais comuns referem-se a ganhos de prêmios ou aplicações com rendimentos muito acima do praticado pelo mercado. As dicas são nunca fornecer dados pessoais como CPF, RG e data de nascimento. Se receber algum e-mail pedindo para clicar em algum link, verifique o e-mail do remetente. Bancos nunca solicitam confirmações por e-mail e se fizerem, haverá alguma campanha de nível nacional avisando. Na dúvida, ligue para seu gerente e averigue.

10 - Pense no futuro

Repito: Economia é fácil! Naturalmente o ser humano tende a abandonar o que acha difícil. Logo, repetir que economia e finanças são fáceis é um grande passo para ultrapassar o tabu, desbloquear as crenças sobre dinheiro e dominar suas finanças.

Todos somos empresários. Todos temos uma empresa! É importante entender que nós somos a nossa empresa! Cada um de nós possui uma empresa chamada VOCÊ e esta é a empresa mais importante do mundo.

Adquirindo essa consciência, torna-se mais fácil entender o quão é importante o cuidado com nosso autogerenciamento.

Se você já “arrumou a casa” e já entendeu que você é a empresa mais importante da sua vida. Uma empresa não se mantém de pé por muito tempo sem norteadores estratégicos que são propósito, missão, visão e valores que representam visão de futuro. Portanto, gerencie-se tendo uma visão de longo prazo e então adote um planejamento estratégico para sua vida. Quais são seus sonhos? Seus desejos? Seu propósito de vida?

Dessa maneira, se torna muito mais agradável pensar em planejamento financeiro e assim começar a aplicar a regra 50-30-20, utilizando 50% de sua renda para os gastos fixos e essenciais como moradia, alimentação e educação; 30% com “estilo de vida” como roupas e lazer, destinando 20% para poupança e investimentos”. Assim, encare o planejamento financeiro como uma forma de planejar os recursos para alcançar seus objetivos.

Contudo, tenha em mente que você é o dono do seu dinheiro e nunca o contrário! Ele deve lhe proporcionar felicidade e satisfação e nunca dor e preocupação. A relação que você estabelece com o dinheiro determinará sua qualidade de vida! Portanto, domine-o e viva com felicidade, graça e leveza!

UBUNTU!

Dirlene Silva

Dirlene Silva

Economista, Mestre em Gestão e Negócios, Consultora de Inteligência Financeira, Coach e Mentora
https://www.linkedin.com/in/dirlenesilva/

Related Article

9 Comentários

  1. Luciana
    4 anos atrás

    Que honra ver uma negra falando lindamente de Finanças! Pra frente 🤜🏾

    • Luciane Garcia Westrupp
      4 anos atrás

      Parabéns Dirlene!! Lindas palavras com uma linguagem acessível e amigável para todos os públicos!! Sucesso sempre!!!

      • Dirlene Silva
        4 anos atrás

        Obrigada pelo feedback e carinho de sempre, Lu! Sucesso para nós!!
        Ubuntu
        😘

    • Dirlene Silva
      4 anos atrás

      Avante, Lu!! Todos somos capazes! É acreditar e agir!
      Ubuntu! 😘

    • Dirlene Silva
      4 anos atrás

      Avante! Lu!
      Ubuntu ✊🏾😘

  2. Keile
    4 anos atrás

    Quantas dicas maravilhosas, Dirlene! Adorei seu texto! Geralmente, o assunto sobre finanças assusta e você explicou muito bem!

  3. Rosângela
    4 anos atrás

    Adorei as dicas!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *